Dois programas de rádio e tevê colocam Belém como a quarta cidade que mais viola leis, normas e direitos da pessoa humana na mídia brasileira.

Dona Silva, que não quis se identificar, preferiu não processar as emissoras que veicularam indevidamente a imagem do filho. A luta da família é pela condenação dos assassinos. 
(FOTO: Kleyton Silva)
 
Por Kamilla Santos
Residente na Marambaia há mais de 30 anos, a família Silva teve o filho caçula brutalmente assassinado. Na casa da família, muitas fotografias e lembranças do jovem de apenas 19 anos, que foi morto, em outubro do ano passado, em um acerto de contas por um crime que não cometeu. De acordo com a mãe do rapaz, que prefere não se identificar, o adolescente morreu no lugar de outros dois amigos, que estavam devendo dinheiro a um traficante da área em que residem. O assassinato do jovem seria uma punição por ter apresentado os amigos ao traficante local.

A mãe relata que os cinco criminosos levaram o adolescente para um cativeiro, amarraram as mãos dele para trás e começaram a torturá-lo. “Bateram nele com tábua, com corrente, soco, pontapé, pedra, tijolo e o meu filho foi massacrado nas mãos dessas cinco pessoas. Quando terminou essa tortura, eles pegaram o meu filho, jogaram dentro do porta-malas do carro e foram pra uma rua da Cabanagem. Jogaram ele dentro de uma vala e uma das pessoas pegou a pistola e deu três tiros na cabeça do meu filho. Uma delas era um amigo de infância, que cresceu junto com o meu filho e ele filmou tudo”, conta a mãe do jovem, ainda muito abalada, ao lembrar das cenas fortes gravadas do celular do próprio filho. O vídeo acabou sendo divulgado na internet e em todos os grupos no whatsapp do qual fazia parte.

Por mais de uma semana, o vídeo da tortura e assassinato do jovem, de apenas 19 anos, foi exibido em todos os canais televisivos de Belém. O caso ficou conhecido internacionalmente. “Você não tem noção do que é você ligar a televisão e ver o seu filho ali. Pessoas que moram na França, meus parentes, viram o vídeo do meu filho implorando pela vida dele", desabafa a senhora Silva, que passou a não assistir mais televisão naquele período para não ter de assistir às cenas. “O que eu agradeço muito a Deus é que nenhuma dessas emissoras falou que mataram um traficante, um bandido, mataram um marginal, que ele teve o que mereceu”, conta a mãe, já que o seu pior medo era, além de ver o seu filho exposto para toda a população, que ele fosse chamado de criminoso.

Recentemente, em mais um caso de violação de direitos na mídia, o apresentador Joaquim Campos, do programa Cidade Contra o Crime, veiculado na Rede Brasil Amazônia de Televisão (RBATV), incitou a tortura como punição ao crime de assalto cometido por uma mulher. Segundo ele, no programa que foi ao ar no último dia 9 de junho, se ele encontrasse a mulher, “passaria com um caminhão por cima dela”. “O problema é esse pessoal dos direitos humanos que protege bandido. Essa prostituta deveria ser arrastada, cortada, violentada. Aí eu queria ver se ela ia continuar roubando pai de família”, disse. A declaração, que incita a violência contra a mulher, culminou em um Desagravo Público, impetrado pela comissão de direitos humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Pará (OAB-PA).

No documento, a OAB-PA constata que, ao fazer uma breve pesquisa por vídeos na internet, há diversas violações das leis e incitação à violência. “Em outros vídeos resgatados do YouTube, o apresentador, além de violar as prerrogativas de todos os advogados que militam nos Direitos Humanos no Pará, incentiva seus telespectadores a fazerem o mesmo”, destaca o desagravo. André Leão, um dos integrantes da comissão de direitos humanos da OAB-PA informou que "até o presente momento não obtivemos nenhuma resposta (sobre as denúncias no desagravo), mas estamos aguardando".

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Fonte: Outros 400 

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