Nota de repúdio contra os episódios de violência e racismo institucional

Imagem: reprodução da Internet
No dia 22 de fevereiro de 2016 por volta das 22:00h, no primeiro portão da Universidade Federal do Pará (UFPA), sete (7) alunos (sendo a maioria mulheres, e uma grávida de 4 meses) do curso de Serviço Social – UFPA, foram impedidos de entrar na universidade. Os alunos estavam munidos de sua identificação estudantil e atestados de matrículas, os quais foram apresentados, e um dos seguranças antes mesmo de pedirmos para entrar veio e falou de maneira grosseira “ninguém vai entrar aqui!!!”. 

E explicamos que apenas queríamos adentrar na UFPA para pegar ônibus no terceiro portão da universidade, devido o risco que iriamos correr se contornássemos a universidade, e mesmo assim os dois (2) seguranças da empresa VIDICOM, que estavam de plantão no momento realizando atividades, não permitiram a entrada dos alunos. Nossa segurança foi negligenciada e ficamos do lado de fora. No entanto, foi permitida a entrada de outros alunos, que estavam de carro/moto, mostrando claramente uma exclusão social e seletiva.

Questionamos então tal procedimento, pois a "norma" deveria funcionar para todos. Foi então que o mesmo guarda, de forma agressiva, deu um forte chute no portão, tentando nos intimidar, e novamente nos agrediu verbalmente dizendo, “ninguém vai entrar! Vocês são um bando de drogados!”, estando extremamente alterado, nos expulsando do local, informando que ele era uma autoridade e que ninguém entraria/passaria por ele. Mostrando assim, uma falta de preparo profissional. 

No momento da saída de um veículo, adentramos na universidade pedindo respeito aos alunos por parte da seguranças/VIDICOM, e também solicitamos a presença do responsável pela segurança da UFPA. Um dos guardas saiu do seu posto e retornou com mais de 10 seguranças (entre eles, seguranças terceirizados e seguranças da universidade), a maioria também alterada.

Um dos seguranças, que é servidor da UFPA, já chegou ao local fazendo a falsa acusação de que os estudantes estavam agredindo os seguranças da VIDICOM, e em nenhum momento os servidores escutaram os estudantes. Neste momento uma das alunas, indignada com a situação, por já ter sido momentos antes ofendida e agredida verbalmente, informou que iria entrar com uma ação contra os agressores, e que levaria o caso até a ouvidoria e reitoria da UFPA, foi quando um dos seguranças falou de forma irônica e autoritária “vai lá com o reitor e diz pra ele que fui eu que mandei!”, demonstrando claramente um descontrole e desequilíbrio. 

No meio da discussão um dos servidores da UFPA empurrou e chamou uma das alunas de “drogada”, “fudida” e “vagabunda”. Sendo novamente agredida verbalmente e moralmente. Não respeitando também uma das alunas que está grávida, e no momento passou muito mal, proferindo também expressões de cunho homofóbico à um dos estudantes.

A aluna que sofreu a agressão moral ficou extremamente nervosa, chorando muito, e se dirigiu ao servidor que a agrediu, informando que o mesmo teria que provar o que estava falando e que isto era violência contra a mulher, foi então que o servidor retirou seu colete e por duas vezes tentou bater na aluna com o mesmo, ameaçando-a. Na segunda vez, o mesmo servidor tentou proferir um soco contra ela, e uma das alunas entrou na frente para defendê-la da agressão física, empurrando o servidor, onde o mesmo caiu no chão. Gerando um tumulto entre os estudantes e os seguranças – servidores.

Uma viatura da polícia militar foi acionada pelos servidores/seguranças da Universidade, mas permaneceram por poucos minutos e foram embora. Sendo apenas uma forma da segurança da universidade nos intimidar ainda mais.Colocados para fora da universidade, nos dirigimos à rua Augusto Côrrea, e avistamos uma viatura da polícia militar, e no mesmo momento fomos levados pra seccional de São Brás para registrar o boletim de ocorrência. Os devidos procedimentos legais e administrativos serão tomados pelos estudantes.

A violência contra a mulher infelizmente é algo naturalizado em nossa sociedade e também se reproduz no âmbito da universidade, mesmo sendo este o espaço de construção de conhecimento e respeito aos sujeitos sociais e suas demandas. Tal violência que tem explícito recorte social e de gênero e jamais pode ser naturalizada! Esta nota representa o silencio de muitos alunos que foram e são oprimidos e violentados todos os dias na Universidade por um diversos funcionários que não estão preparados para lidar com a diversidade presente na comunidade acadêmica.

Cobramos um posicionamento da administração da Universidade, bem como da empresa terceirizada que é responsável por alguns dos funcionários envolvidos no ocorrido, tendo em vista que havia seguranças tanto da empresa terceirizada quanto os da Ufpa. As instituições são responsáveis pelo preparo e capacitação dos funcionários, por isso é de suma importância que tomem as devidas providências e se responsabilizem pelo fato.


23/02/2016

Pauliane Araujo

Jefferson Rodrigues

Giselle Santa Brigida

Rafael Guedes

Caroline Santos

Zaira Teles 

Lorena Maciel

Assinam esta nota*: 

CASS - Centro Acadêmico de Serviço Social/UFPA

DCE/UFPa

PAJEÚ

CAFIL - CENTRO ACADEMICO DE FILOSOFIA

CAPE - Castanhal

ANEL

Arthur Leandro, Professor da Faculdade de Artes Visuais, FAV/ ICA-UFPA 

Mulheres Negras em Rede

CACO/UFPA - Centro acadêmico de comunicação social

Evandro Gaia 

Juntos

Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos - (SDDH). 

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